A Evolução produziu essa obra de arte incomparável que é o ser humano, a Espécie humana, o Homo Sapiens. Quanto ao nosso corpo físico, a nossa fisiologia, a Evolução fez sua parte de forma brilhante, e sua obra está terminada. Com exceção do Apêndice, que não serve para nada, nosso corpo é irretocável!
Todavia, o mesmo não se pode dizer da evolução da socialidade desse corpo.
A palavra “in-divíduo” é muito pobre para designar o ser humano. Ela significa o óbvio, que nosso organismo é indivisível. O termo correto para nos designar é “pessoa”, porque essa palavra na sua origem, persona, diz respeito ao papel de um ator numa peça, atribuindo desta forma ao ser humano sua verdadeira conotação, expondo sua dimensão social.
Se por um lado então a nossa fisiologia está perfeita e acabada, graças ao trabalho árduo e talentoso da Natureza, o mesmo não se pode dizer da nossa socialidade, cuja evolução agora depende de nós. Com certeza estamos diante de uma obra inacabada. Ao que parece a nossa Evolução ficou emperrada, truncada, travada.
Existe no nosso corpo uma certa “Unidade” entre os diversos sistemas (nervoso, digestivo, respiratório etc), que permanecem em regime de perfeita reciprocidade em função de manter o corpo sadio, porque a Natureza sabe cuidar de si mesmo. Existe “diversidade”, mas na perfeita na “unidade”. Cada sistema tem a sua função e a sua “personalidade”, da qual não deve e nem pode abdicar, pois sua omissão causaria danos ao todo orgânico.
Mas, ao que parece, os sistemas sociais não assimilaram a lição de casa! Nota-se que o homem em sociedade não foi fiel às suas origens, e não entrou ainda na dimensão da reciprocidade, que na verdade, é o sangue que corre nas veias da “unidade” corporal.
Enquanto os Filósofos e intelectuais filosofam, e enquanto os espiritualistas rezam, e enquanto os cientistas pesquisam, os espertos estão sendo bem mais práticos e objetivos, roubando a todos eles, e a nós todos! Há os que matam seu irmão, traem sua família, dirigem bêbados, e fazem gol de mão.
Fico fascinado em saber que na antiga Grécia, o povo preocupado com sua socialidade, se reunia na praça central para enfrentar o desafio de fazer evoluir as cidades (Polis). A política que praticavam se ocupava da res-publica (coisa pública) e para isso usava da força do povo (Demo-kratos).
Seria muito interessante aprofundar uma pesquisa a respeito do pensamento grego sobre a reciprocidade a unidade. Será que havia uma consciência da importância desses aspectos?
Caso tenha havido, talvez de forma rude e não muito explícita, porque foi que essa consciência se dissipou com o tempo? Ou porque não evoluiu?
O metabolismo do nosso organismo não atua de forma democrática, quantitativa, com jogo de poder, joga o Poker da esperteza. Ele atua de forma unocrática[1], ou seja, a vida do organismo depende a força da unidade que existe entre os órgãos desse corpo.
É por esse motivo, entre outros, que a Democracia se transformou em pura falácia política. O culto à Democracia se tornou algo patético. Apresentar-se como defensor da Democracia é o caminho escolhido por todos os políticos para se mostrarem plenamente qualificados a nos representar.
“O Rei está pelado”, portanto cala-te boca! Quem ousaria contrariar o pensamento do Rei? Ninguém tem a coragem de encarar a verdade nesses casos.
A palavra Democracia é usada no discurso político como uma espécie de abracadabra, a palavra mágica que resolve todos os problemas sociais. Passam-se os anos, as cidades estão destruídas, e a “ficha não cai”, lá estamos nós, anos após anos, ouvindo o velho discurso de palanque em nome da Democracia.
No entanto o sistema democrático, que é tido como um verdadeiro “sana totum” de uma sociedade doente, está mais para uma prostituta depravada que para um santo remédio.
Que erro trágico! Não são os políticos que realizam a Democracia, é o povo! Somente o povo tem condições de criar uma Unocracia, ou seja, um sistema cuja unidade popular tenha força intelectual, espiritual, monetária, econômica, financeira, cultural. Democracia sem Unocracia é vazia.
Até posso acreditar que muitos líderes políticos tenham começado suas trajetórias de sucesso, com alma limpa e cheio de pensamentos sociais imaculados. Mas a verdade é que não se tem pensamentos puros dentro de um bordel. Como sabemos a virose se propaga na sujeira. É um santo desejo querer chegar ao poder para ter como servir ao povo. Mas, o poder produz privilégios, benesses e muito dinheiro. É difícil resistir ao impulso do “ninguém está vendo”, “se eu não levar, os outros levam, e ainda passo por trouxa”. E a reciprocidade, que é a saúde do povo, se reduz a um “toma lá dá cá”.
A Democracia! Palavra mágica, que purifica de imediato quem fala em nome dela! É sempre a palavra certa, é o salvo conduto do corrupto para passar por entre a multidão sem ser espancado, e com um pouco de sorte e dinheiro, ser até carregado nos ombros.
O segredo do sucesso político é dominar a técnica milenar de roubar sem deixar vestígios, e tanto é verdade que qualquer ladrão público tem como defesa irrefutável o fato de que nunca ninguém provou nada contra eles. Eles nunca dizem que não roubaram, dizem sim que não houve provas e que o Tribunal de Contas aprovou seus mandatos. Ah! Esses TC´s da vida! Ainda vão dar muito que falar!
Sem mais delongas, Democracia sem Unocracia é piada. De mau gosto. E gosto amargo. Os que vivem abaixo da linha da miséria que o digam. O povo é rico, pois é o povo que produz as riquezas, mas graças à Democracia, as riquezas ficam com os ricos. Todas as Empresas Estatais não são do Governo, são do povo. Eram do povo, antes do Governo vendê-las.
A essência da Democracia é a força do povo, que é a mesma força da manada, da matilha, da pocilga. Na democracia a união é exacerbada, porque a união é uma virtude fácil, ao alcance dos medíocres. Quando um corpo social tem união, mas não tem Unidade, é como um corpo feito só de ossos e músculos, sem cérebro nem coração.
A Unidade do povo é tida como um pressuposto e por isso ela não é construída.
O nosso corpo humano não é o resultado da união de diversos órgãos e sistemas vitais, justapostos em qualquer ordem, mas nosso organismo é uma obra de arte da força da Unidade. Existe uma vida que circula, onde cada elemento componente existe em função do todo. Na Unidade existe vida. Enquanto que uma pilha de votos é coisa morta.
Quem levanta a bandeira da Democracia como se ela fosse o ápice da inteligência social, não passa de um ignorante, na melhor das hipóteses, ou de um bandido mal intencionado, o que é mais provável.
A Democracia é puramente representativa, mas somente a Unocracia é participativa.
Ordenar o povo em filas, diante das urnas, pode até ser trabalhoso, mas organizar é mais que isso, é gerar órgãos em relação vital uns com os outros, o que exige extra talentos pessoais e sociais.
O desafio da Humanidade não é fazer os políticos realizarem a Democracia, mas levar os povos a realizarem a Unocracia.
Agora sim, já podemos dizer: o povo unido jamais será vencido!
Marco Iasi
[1] Registre-se historicamente que esta palavra não existia no dicionário do Word, e eu tive que adicionar.