Os mais jovens não sabem o que é isso, mas na minha infância tínhamos o hábito de malhar o Judas, um dia antes da Páscoa. Fazíamos um boneco com roupas velhas enchíamos de jornal e o enforcávamos no poste da rua. Quando toda molecada estava preparada munida de cabos de vassouras, punha-se fogo no boneco e começava aquela malhação.

Gostaria de prevenir que esta abordagem não é sobre Religião, mas sobre o nosso psiquismo.

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Diversos episódios mostraram que Jesus tinha poderes ilimitados, no entanto nunca se prevaleceu desses poderes para invadir o eu dos que dele se aproximavam, e dessa forma acabou até por pagar um altíssimo preço, porque sabia que “a psique é um campo de aprendizado, de educação e de autotransformação, não de milagres[1]. Isso significa que Ele acreditava que o nosso eu poderia ser educado, acreditava que nós podemos exercer agora a gestão da nossa psique, diria até que Ele veio justamente para isso. Jesus era educador do eu, com exemplos da própria conduta, mostrando como é importante saber agir em cada circunstância da vida, por mais adversa que ela possa ser.

Por isso Ele “alimentou o eu dos seus discípulos com os melhores nutrientes e deu-lhes o mais excelente treinamento” apresentando à Humanidade o Seu Eu, que bebia diretamente da fonte do Amor, Deus.

Esse é o motivo pelo qual Judas se destruiu psiquicamente, pois não percebeu que estava dentro de um processo seríssimo de treinamento racional, emocional, espiritual e social do eu.

Sabemos muito bem que nossos pais não souberam nos treinar para a gestão do eu, e as Escolas menos ainda.  Éramos crianças e não sabíamos que estávamos malhando um pedaço do Judas que certamente esta dentro de nós. Agora, adultos e maduros que somos, não podemos mais cometer o erro de Judas. Jesus, o Mestre, mostrou ao mundo como agir, como ter o pleno domínio do próprio eu, e com isso, a partir da sua pequena comunidade de Apóstolos, posteriormente liderada por Maria Sua Mãe, gerou com Seu Novo Mandamento uma Nova Humanidade de pessoas que se auto educam para o amor, primeiro amando a si mesmos, para depois estarem aptas a acolher o que der e vier do próximo.

Judas estava fora! Mas agora está dentro… de nós!

A criança é egocêntrica por natureza, ela vive num mundo que é só dela, onde ela ainda não tem consciência disso, nem de si e nem do outro. Para a criança a sua própria mãe é extensão dela, é apenas um elemento que vive dentro de um mundo, que ele construiu para si.

Crescer e amadurecer para uma criança significa descobrir o mundo dos outros. Esse é o grande desafio do adolescente em crise, que entra em choque com a realidade, e um deles é saber se posicionar no novo mundo do “nós”, mundo do qual também o “outro” faz parte.

E o adulto – supostamente – seria aquela pessoa que aprendeu a treinar o seu eu para a convivência feliz em sociedade, coisa que nem todos conseguem. Porque um eu abandonado ao acaso da vida, “sem educação, fica doente e se torna servo das próprias mazelas”. Nosso desafio continua sendo o de aprender a dominar o fluxo de material psíquico que jorra constantemente do nosso inconsciente para o consciente. Mas quem de nós foi alertado para a existência de um eu em nós que deve ser polido, a vida toda.

Em qualquer ambiente, principalmente no familiar, podem acontecer confrontos, divergências, repulsas, o incômodo da opinião do outro sobre a nossa conduta, frustrações, tédio, depressão, tristeza. E é justamente nesses tipos de ambientes desfavoráveis que deveremos exercer o controle do nosso eu adulto.

I beg your pardon, sir”, contém lições de educação do próprio eu, bem mais profundas do que o instinto fleumático britânico.

Marco Iasi

[1] Augusto Cury – A Sabedoria nossa de cada dia.  Idem para tudo mais que estiver entre aspas