Um fazendeiro, muito crédulo e inconsequente, pediu cordialmente para uma raposa tomar conta do seu galinheiro, pois esta, com discurso já preparado de antemão, lhe disse que gostava muito daquele tipo de trabalho, e que era muito ágil e veloz, que seria capaz e muito competente para cuidar da sua propriedade. Depois, quando já era tarde demais, o pobre fazendeiro se deu conta da falácia da raposa, e se arrependeu, ficando assim sem ovos, sem galinhas e sem pintinhos. Passando fome e necessidades, não sabia a quem recorrer, e não tinha para quem reclamar sua perda.

Transtornado, assumiu toda culpa, pois descobriu que a raposa esperta apenas seguiu os seus instintos naturais de autopreservação. Nem faz parte da sua natureza a socialidade, ela nem sequer tem a consciência de saber o que seja uma fazenda, e muito menos leva em conta o privilégio de se relacionar com seres humanos… Fim!

Um motorista descia morro abaixo em direção ao lago que ficava lá perto da Praça. Mas, subitamente o freio do seu carro falhou, e não houve quem segurasse o veículo, o qual despencou pela ladeira, desgovernado e descontrolado. Sai da frente! … Fim!

A nobre missão da Gestão é o resultado direto da conjugação da arte de Administrar com a arte de Gerenciar. São atividades distintas, mas inseparáveis: a Administração é a responsável pelo Governo ou desgoverno, e a Gerência é responsável pelo Controle, ou descontrole. Ou seja, no desafio da Gestão, enquanto o Governo indica o bem que deve ser praticado, o Controle assegura o êxito da missão, a qual foi projetada para a prática do bem.

Como se pode logo perceber, existem muitos fatores aqui a serem considerados, e todos eles têm tudo a ver com nossas vidas pessoais e com a harmonia dos diversos tipos de sociedade humana.

Os usos e os costumes de um povo – a que chamamos de Ética – estão todos voltados exclusivamente para a busca do bem comum, de cada um dos cidadãos e das comunidades por eles formadas. A delicada arte de Governar diz respeito a isso, a realização pessoal de cada um, e da construção do bem de todos.

Se, na Administração, o ato de Governar está associado à ideia da Ética, poderíamos dizer que na Gerência o ato de Controlar está associado a ideia de Poder.

Em termos de coisa pública, estamos falando de uma contratação tácita que acontece entre o povo e os seus representantes políticos. Se a base da relação de reciprocidade e compromisso que está sendo estabelecida nesse processo não estiver bem clara, essa ação comunitária é tão inútil quanto se querer fazer um furo na água.

É muita ingenuidade de avaliação desse fenômeno social, se não percebermos o quanto a postura ética é volátil e sem consistência confiável. O compromisso ético e moral, que é da maior importância no processo, pode tornar qualquer Governo inconsistente como o éter.

Ao passo que do outro lado, o Poder de Gerenciamento e de Controle rapidamente mostra suas garras e abocanha para si os benefícios do processo sócio-político-econômico desvirtuado.

É, portanto, natural que ocorra também aqui, como no galinheiro, o “efeito raposa” e a agenda política, com alta dose de dissimulação, desvie seu eixo de conduta segundo seus instintos animais, desprezando todos os valores humanos e éticos básicos, agora evaporados, propiciando assim o caos de uma sociedade, cujos Dirigentes mergulham de cabeça no oceano do Poder sem limites, desgovernado e descontrolado, como o tal do veículo sem freios.

Os políticos são os Gerentes dos recursos, dos bens e do dinheiro do povo. Onde estão os Administradores, os que direcionam os Valores da nossa “Fazenda” para o bem comum?

Marco Iasi