Whisper é uma cadela muito meiga e carinhosa com gratidão evidente por ter sido tirada de uma vida de sofrimento nas ruas. Mas quando ela sai pra passear se transforma numa fera agressiva e indomável, e nada pode detê-la. O eu dela regride aos dias em que ela padecia todo tipo de agruras. O instinto de sobrevivência que é fundamental para os animais, é o mesmo que temos dentro de nós.
Fiquei sabendo que não somos como os computadores, que você deleta os arquivos inúteis, ao contrário, nossa memória grava tudo que se passa conosco, e para sempre. E pior ainda é que a memorização não é seletiva! Ela grava tapas e beijos.
O nosso problema é que essas memórias vão aflorar na nossa mente e acabam por conduzir os nossos atos e atitudes. Como se vê, os mecanismos mentais instintivos são os mesmos dos animais, de REAGIR, mas felizmente, por termos consciência da existência do nosso eu, podemos nos reprogramar para AGIR da melhor forma em cada momento. Caso contrário nossas reações serão impulsivas e descontroladas. “Nos primeiros 30 segundos, depois de ocorrer um foco de tensão, cometemos erros constantemente, e o que é pior, é nesses momentos que cometemos os maiores erros das nossas vidas.”[1]
“As histórias arquivadas na memória compõem a colcha-de-retalhos da nossa personalidade. O registro dessas histórias é um processo inconsciente automático e involuntário que não depende do eu, ao contrário dos computadores em que o registro de dados é feito de acordo com a vontade do usuário.”
Nessa fração de minuto, nosso eu deve ser treinado por nós mesmos para praticar o silêncio e a imobilidade. Caso contrário você perderá o controle e poderá se arrepender de escrever páginas feias na tua história, e complicar tua vida.
Esse mecanismo mental funciona muito bem para os animais, porque o universo deles é muito simples, atacar e matar para não morrer. Correr para poder comer; Fugir ou virar comida.
Mas o universo humano, com milhões de galáxias emocionais, sentimentais, racionais e espirituais, clama por um desenvolvimento pleno da nobre arte de pensar antes de reagir. “Temos que usar o processo de registro automático a nosso favor, produzindo pensamentos alternativos, e emoções mais saudáveis, porque também estes serão arquivados automaticamente, e isso impedirá que frustrações, mágoas, fobias, rejeições sejam arquivadas.”
Bingo!!! Temos que filtrar os estímulos estressantes e usar o processo de registro automático a nosso favor.
Assim, “cada sofrimento, crise, dificuldade que atravessamos é uma oportunidade de ouro, não para se punir ou se culpar depois, mas para se reconstruir” e educar o próprio eu.
Eu não sabia disso, e com certeza poucos sabem, que o nosso eu é um gestor psíquico, mas essa nobre missão de administrador infelizmente nunca fez parte do ferramental da nossa educação, nem em casa, menos ainda nas Escolas. Pelo menos temos uma boa desculpa para os nossos relacionamentos desastrados.
Estamos todos dentro do roteiro de um filme de faroeste, onde aprendemos que a reação imediata é sacar primeiro, pensar depois, bateu levou! Morto não mata!
Diante de uma agressão reagimos com outra agressão, e regredimos milhares de anos, como se ainda estivéssemos na disputa de um pedaço de carne, no escurinho das cavernas.
No entanto, eis a novidade, podemos xingar de volta, matar para não morrer, ou podemos educar o nosso eu para escolher melhor a ação a ser adotada. A agressividade dos animais continua ligada no automático, e ao que parece, nós os herdeiros, nos esquecemos de desligá-la.
Será que esta descoberta tardia é importante para nossas vidas? Estaria esse fenômeno psíquico na raiz dos desquites, do alcoolismo, das drogas, do desemprego, da corrupção?
Eu acho que você, pouco preparado e pouco letrado, não entendeu nada do que eu disse, e logo vai estar liberando o teu eu agressivo, me chamando de besta e se arrependendo de ter perdido teu tempo lendo este artigo… vai bater a tampa do Notebook com uma sede enorme de me pegar pelo pescoço.
Surpresa! Mil perdões, foi apenas uma provocação! Você não sabia que no final deste discurso havia este exercício prático, para teste de compreensão do texto, todo escrito para o aprendizado de uma nova forma de agir na vida.
Como você se saiu? É você que se avalia, o interesse é todo teu.
Eu peço mil desculpas, mas na vida também é assim, ela não te avisa quando você vai ser posto à prova.
Marco Iasi
[1] Augusto Cury – A Sabedoria nossa de cada dia. Idem para tudo mais que estiver entre aspas